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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Maconha e imoralidade

Já notaram que uma das estratégias utilizadas para desvalorizar o que alguém diz é denegrir a imagem dessa pessoa? Durante uma discussão, quase que inconscientemente, costumamos chamar o oponente de louco, descompensado, histérico, etc. Advogados utilizam muito essa estratégia, a exemplo do que tentaram fazer com Elisa Samúdio na tentativa de justificar uma possível participação do goleiro Bruno no crime.
Quando se apela para questões de cunho moral, é como se o nosso oponente perdesse todos os seus direitos: de voz, de opinião, de ter direitos...
Podemos perceber então que a moral é um artifício um tanto perigoso para mensurar nossos julgamentos, pois ela se modifica de cultura para cultura e de um momento histórico a outro. Querem um exemplo?
Estou realizando uma pesquisa histórica sobre as drogas. Verifiquei que desde que o mundo é mundo elas são utilizadas pelo homem de diferentes formas: para a saúde, rituais e lazer.
Antigamente eram empregadas principalmente em rituais - e para cada povo estes tinham um significado diferente, o que influenciava, em alguns casos, até mesmo nos efeitos dessas substâncias no organismo dos usuários conforme estudos de Lévi-Strauss. Isto ocorria nas comunidades tribais.
Posteriormente, já por volta do século XV, a igreja católica passou a considerar as drogas como imorais pelo fato de considerarem que o prazer só poderia ser alcançado por meio do esforço, e ainda assim não seria obtido na terra e sim após a morte. O protestantismo reafirmou que o prazer só poderia ser obtido por meio do esforço e também considerou imoral o uso de drogas.Destarte, esse traço moralizante das drogas foi dado historicamente.A partir daí, não só as drogas, mas toda forma de prazer, como bem sabemos, vem carregada de impedimentos com a finalidade de reprimir os sujeitos e garantir que produzam e trabalhem.
Ora, sabendo disto, não parece um pouco ilógico condenar as pessoas por buscarem obter prazer fazendo o uso de substâncias, já que é uma prática antiga na humanidade e que em outros tempos não era considerada desta forma?
Pensemos em uma questão bem atual: a mobilização dos estudantes na USP. Disseram que os estudantes só queriam ter direito de fumar maconha no campus. Tal publicação estava incompleta induzindo a população a total descrédito pela mobilização dos estudantes. Verifiquei posteriormente em outras fontes, e publiquei neste blog inclusive, que os estudantes da USP estavam insatisfeitos com a organização política daquela universidade pelo excesso de repressão de ideias, além do fato de serem contra a privatização daquela universidade, de modo que a prisão dos três estudantes foi apenas a gota d'água pela forma truculenta como ocorreu.
O que quero chamar a atenção aqui é para o modo como a população muitas vezes é manipulada pela grande imprensa. Muitos noticiários não publicam o que é relevante, se publicam, o fazem de modo incompleto, não fazem as perguntas certas, ou induzem a questionamentos irrelevantes... É necessário, creio eu, que estejamos atentos e não acreditemos cegamente na imprensa. Infelizmente a maioria da população não tem acesso à internet para ampliar seu acesso às informações, então, talvez, fosse o momento de incentivar as pessoas a chegar do trabalho e, ao invés de assistir novela por exemplo, que aliás não acrescenta nada...porque de arte vem se tornando lixo reprisado com outros atores ... discutir, conversar, compartilhar, trocar ideias com familiares e vizinhos sobre temas da realidade. Meio utópico pensar que isto acontecerá, mas creio que seria o ideal para começar. Agora, se é difícil desgrudar da TV, que assistam diferentes noticiários, e comparem as notícias... assistir os canais que dão menos audiência pode trazer surpresas interessantes também... Ouvir a "voz do Brasil" às 19h... Enfim... tem muitas coisas acontecendo neste país e é meio desesperador perceber que as pessoas não percebem e que se deixam manipular tão facilmente.

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