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sábado, 12 de novembro de 2011

Individualismo no coletivo.

De manhã me sentei ao lado de um adolescente cinquentão dentro do ônibus que estava ouvindo música sem fones de ouvido em seu celular com o volume nas alturas.
Existe aquela célebre frase popular: “gosto não se discute”, mas tenho cá comigo a opinião de que "gosto não se discute desde que ninguém me obrigue a compartilhar daquilo que não me agrada."
Cada ser humano que nasce é único quanto a seus desejos, pensamentos e ações. Necessitamos do outro para sobreviver desde que nascemos e, por este motivo, nos organizamos em comunidade. Para viver em comunidade estabelecem-se normas e leis – que visam estabelecer o que é certo ou não para determinada cultura ou período histórico. Entretanto, nem tudo pode ser regulado por leis, e é aí que entra o bom senso e a necessidade de empatia (se colocar no lugar do outro).
Se cada ser é único, então é óbvio que as normas e leis, ou a falta delas, sempre deixa uns e outros descontentes. Hoje em dia, algumas pessoas tem discutido se deveria haver uma lei para proibir o uso de celulares, mp3,4,5,10.... ou outros equipamentos de som dentro dos coletivos ou em espaços públicos sem o uso do fone. Bem, o direito não pode regular tudo. Para que uma lei deste tipo funcionasse haveria a necessidade de fiscalização e ausência de impunidade. Tudo isto requer muitos recursos e dores de cabeça tanto para os reclamantes quanto para os "réus". Será que um pouco de bom senso e empatia já não resolveria a questão?Bastaria um pouco de empatia para o cidadão perceber que Tonico e Tinoco pode não fazer parte da playlist dos transeuntes que estão a seu lado...
Atualmente as pessoas parecem ter se preocupado cada vez menos com as regras de boa convivência em sociedade. A falta de respeito com o espaço do outro é visível e creio que tal mentalidade seja consequência da nossa cultura individualista.
Nas escolas e universidades, observa-se a queda da autoridade do professor, nos relacionamentos, observa-se o desapego e a dificuldade em estabelecer laços afetivos duradouros ou ao menos com um mínimo de profundidade.Além disso, aparentemente as pessoas têm dado cada vez menos valor às regras, de modo que consideram comum todos os tipos de transgressão: é considerado sinal de modernidade transgredir...
Essas observações podem ser feitas por qualquer cidadão leigo em subjetividade, entretanto, especialistas no assunto têm alertado para este fato e realizado considerações a respeito. Birman afirma que nossa sociedade é a "sociedade do espetáculo", referindo-se a um narcisismo exacerbado que se reflete no modo como nos relacionamos. Charles Melman afirma que nossa sociedade tem se pautado na perversão, onde o próprio gozo é a ordem, independente das convenções, etc.
Minha opinião é que a cultura individualista tem contribuído para a dificuldade de identificação com o outro e os resultados não são nada agradáveis, pois a incapacidade de identificação com o outro possibilita, por exemplo, o aumento da violência em todos os seus modos de expressão. Além disso, o individualismo dificulta as trocas (de saberes, de opinião, de conhecimento) e isto resulta em pensamentos cada vez mais bilaterais e rasos.
Observem, por exemplo, as produções em música que temos no Brasil. É certo, como eu já disse, que gosto não se discute, mas quando se olha para alguns anos atrás, o que se pode dizer que foi memorável e ao mesmo tempo novo, em matéria de música? Ninguém mais se lembra do "bonde do tigrão" e calipso parece já ter saído de moda. A música tem se tornado descartável. Então, essa fobia a fones de ouvido parece uma tentativa de compartilhar com o outro uma cultura que, embora alcance a maioria, não agrada a todos, pois sempre há exceções, mas talvez ocorra pelo fato de o sujeito não saber mais como fazer para se comunicar com o outro, não sabe como existir e acaba se impondo pela via do incômodo do som.
Pode ser, e é grande a possibilidade, de que muitas dessas observações estejam incorretas, mas, em algum ponto deve ter algum fundamento. Até porque, infelizmente, o que tenho visto é um aumento considerável de situações como esta que ilustrei há pouco...

T.F.

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